Este
texto narrado na primeira pessoa, é uma reflexão sobre a realidade da África Ontem,
Hoje e a Possibilidade do amanhã quando a África por sua vez resolver lutar e
eliminar os seus problemas internos, de modo a deixar de depender dos ideais e
políticas do ocidente. Este texto é um alerta para os governantes e governos
africanos. Em África tudo pode ser possível e creio que tudo é possível. A
união faz a força! Desperta-te África! Awake Africa! Pfuka Afrika!
Nasci
e cresci em África. Meu pai e minha mãe são negros, portanto, eu sou negro. O
meu fôlego de vida é fôlego dum negro, o sangue que circula em mim é sangue dum
negro, penso, medito, contemplo, raciocínio como negro que sou. Sinto orgulho
de ser negro que sou, apesar de não me conformar com o presente da terra que me
pariu, eu amo-a como ela é, por isso o meu sonho, o meu querer, o meu desejo é
lutar por ela, lutar pelo bem dela, e do meu bem e das próximas gerações.
Sou pobre como o meu continente que foi
atrasado pelo colonizador do ocidente. Mas o meu continente é rico por outro
lado, quer dizer, eu também sou rico dum lado!
Os meus antepassados eram ricos que nem se
contentavam com a riqueza que eles tinham mas não faziam nada com ela, só se
alegravam de ser considerados ricos. Era a riqueza deles a poligamia, muitos
filhos, muito gado (seja ele bovino, caprino, ovino, etc.), tinham sede de
conquistar mas riquezas, não se conformavam com o que eles tinham ao ponto de
ficarem pobres com as suas riquezas. Andavam nus, não matavam nenhum boi senão
durante a realização de algumas cerimónias tradicionais!
Estou falando de mim como africano. Estou
falando da realidade de um antepassado africano, uma realidade quase
abrangente, que a sua imagem reflecte-se em mim hoje, mas com algumas
modificações devido a influência do homem branco proveniente do ocidente.
A imagem actual é progressão da imagem do meu
antepassado. Estou dizendo que o presente é imagem do passado e que a imagem do
presente independentemente das suas modificações irá se reflectir no futuro.
Se o meu antepassado, ontem falhou,
tornando-me no que hoje eu sou, e que não gosto dessa realidade, quero ser
diferente, transmitir boas qualidades para os meus filhos e futuras gerações,
por que é que não elimino todos esses meus podres? Sou Africano, agradeço a
deus por ser africano, mas não deixo de condenar o meu explorador e o
explorador dos meus antepassados. Sou defeituoso, perdi a minha realidade e
qualidade de ser africano por causa dele.
O sangue que circula em mim já foi envenenado,
aquela qualidade original de ser africano já foi adulterada por influência do
ocidente.
Na década 50/60 do século XX, descobri que de
facto a minha originalidade estava a ser viciada e a minha realidade preste
para evaporar, por isso lutei contra o homem branco do ocidente ao ponto de eu
conseguir retornar a posse de mim mesmo e da minha terra, África. Aí, quando o
homem branco do ocidente me deixou em paz com a minha terra, depois de tantas
batalhas sangrentas, porque ele não queria deixar-me com o que é meu, usurpador,
disse eu a mim mesmo que já estou em paz. Yááhh, é desta vez que vou restaurar
tudo o que aquele inquilino do ocidente estragou. Pensei eu que havia-lhe
vencido. Afinal o derrotado nem sempre se conforma com a sua derrota! Ele fica
silencioso planejando táticas de me atacar e me explorar. Alegre, e convencido
pala vitória, não fui vigilante, fiquei jubilando na restauração de tudo o que
o meu inquilino de má-fé destruiu. A destruição levou quase 500 anos, eu
pensava em restaurar tudo isso em 100 anos ou mesmo pela demora num intervalo
equivalente a 500 anos de destruição.
Mas porque na minha terra há riquezas que os
meus antepassados deixaram para mim e meus irmãos, também africanos, ele não
apanhou sono, veio com suas novas estratégias para me/nos domar e dominar.
O homem branco do ocidente é manhoso e
desumano, esperto e sábio, ele sabe que, na destruição que ele me fez irei
precisar de muita coisa para restaurar tudo o que ele destruiu. Ai ele vem com
as suas propostas, fingindo, feito um bom amigo, enquanto por detrás do seu
sorriso fingido leva consigo aquela realidade dele de ontem. Pediu-me perdão,
mas só para me animar e me agradar, ele ainda é o mesmo.
Foi ele ontem, é ele hoje e será ele amanha,
ele Ainda não mudou e já mais mudará, porque ele não se conforma com o que ele
tem, quer me arrancar isto, que os meus pais deixaram para mim e meus irmãos.
Ele não para de traçar estratégias, ele não descansa antes de alcançar os seus
objectivos, e a minha terra, eu e os meus irmãos somos seu alvo!
Ai eu desperto os meus irmãos. Vamos nos unir
irmãos. O nosso inimigo esta de volta! Vamos nos manter e vigilância e fortes
na defesa, defendemos a nossa terra e património. África, esse é nosso apelido,
vamos lutar pelo bem de África. Que deixemos em partes as nossas
concupiscências, que deixemos em parte o egoísmo, a ambição, as brigas entre
nós, se nó brigarmos entre nós o nosso inimigo facilmente nos destruirá, nos
escravizará. Nos somos pobres mas ricos . A nossa riqueza o nosso património precisa
de ser defendido por nós, é através dele que nos tornaremos ricos na pratica e
jamais teoricamente. E isso que o nosso explorador quer.
Vejam, irmãos, ele traz vinho, fruta, carne e
variados alimentos de bandeja, ele parece um servente, parece trazer tudo de
bom e saboroso! Cuidado irmãos! Nem tudo o que nos traz de bandeja faz bem ao
organismo, aparentemente parece boa coisa, mas ele já viciou a natureza,
cuidado. Desta vez devemos lidar com ele de uma maneira diferente da de ontem.
Devemos estranhar tudo o que nos aparece, mesmo aquilo que aparentemente parece
verdade, real, fiel, confiável e justo. O mundo foi amaldiçoado. O mundo já não
é justo! Quem passou dum sofrimento, dum pânico, dum terror, nada que está em
sua volta confia. Ele estranha até mesmo da sua própria sombra.
O ocidente explorou-nos totalmente, não deixou
nada de nós escapar. As nossas riquezas: minerais, aquáticas, florestais, faunísticas,
solo superficial, inclusive o nosso corpo. Nós como seres que somos, fomos
explorados do cabelo até às unhas. Hoje o ocidente é mais rico que nós
aparentemente, mas nós somos mais ricos que ele na verdade. O ocidente
alegra-se em nos escravizar. Já aprendemos muito nele. E queríamos nós que não
nos voltasse a escravizar duma ou outra maneira.
Na escola aprendi que a independência de que gozamos
nós os africanos, é “política”, ainda falta-nos a independência económico-financeira.
Quanto a este último ponto, de finanças, eu
apesar de ser fútil, quero me atrever em endereçar a minha mensagem a todos os líderes
políticos africanos e seus elencos, isto é, aos governantes africanos, porque nem mesmo
aquela coisa que se pensa que é inútil em contraste tem maior utilidade aos que
sabem aproveitar de tudo, tomando como exemplos “as fezes”, desculpam-me pela
expressão, elas são proveitosas, são transformados em fertilizantes que por sua
vez, esses enriquecem os solos que os tais depois dão-nos boa fruta e saborosa.
Veja como são úteis aquelas coisas que à primeira vista pensamos que são fúteis?!
Voltando ao contexto, quero atacar os meus conterrâneos
governantes, mesmo sem autoridade para tal. Vinha falando eu que não sou tão
importante assim, mas que reflicto a realidade de ser o que sou como africano,
e o que eu quero como africano, desejo esse que é desejo da maioria dos
africanos, que morem por dentro, por falta de coragem e atrevimento de se
expressarem, só e simplesmente porque tem medo de morrer . Não há medo de morte
em mim, o que eu temo é o modo de morrer. Eu sei que um dia morrerei. Por isso
nada de ter medo da morte meus irmãos. Vamos falar e fazer o que nós falamos
para poder destruir o nosso inimigo que jamais se cansa na luta que ele tem
contra nós.
A África conforme já dito, é rico, e nós todos
(africanos) já sabemos disso. A África é pobre porque o europeu atrasou-nos mentalmente.
Se mentalmente sentimo-nos avançados, então não ainda somos muitos assim. Precisamos
de aumentar a percentagem dos letrados e intelectuais. Se educação for moldar o
homem conforme as necessidades económicas, sociais e politicas de uma
sociedade, então, que façamos o mesmo com a nossa sociedade. Façamos o mesmo
com a nossa sociedade. Assim sendo, creio eu que a nossa educação, como
africanos, será destinta da dos europeus ou de outras sociedades. Porque se
hoje recebemos uma educação desenhada pelos europeus ou outro povo, estamos
seguindo e obedecendo sem sobressaltos aquilo que o europeu quer em nós. O que
ele quer que nós sejamos para ele. Se uma vez nós resolvemos preparar os nossos
homens, e olhando para o europeu como nosso inimigo, como é que vamos permitir
que seja ele a nos traçar estratégias de preparar os nossos homens? Será que vai
preparar um inimigo para si mesmo? Obviamente, Não.
Vejamos
agora para a nossa realidade, será que hoje nós estamos formando aquele homem
capaz de fazer a gestão dos recursos do património africano de modo que esse
seja a base do desenvolvimento em África? Claro que não. O jogo de interesses
que há entre países industrializados com as do terceiro mundo satisfaz as
necessidades dos primeiros mais desenvolvidos.
Por que é que os países industrializados, os
mais desenvolvidos não investem em África, de modo a criar industrias
transformadoras de matérias-primas aqui em África? Por que é que os nossos
governantes que se tornam mais ricos estranhamente não guardam os seus fundos
monetários cá, mas que coregam para guardar e transbordar os bancos ocidentais?
Dentre os investidores estrangeiros e os
governantes africanos quem é o passageiro aqui em África? Quem é o mais rico
entre eles?
Hoje, as organizações locais, regionais e inclusive
a de todo o continente africano, carecem de fundos suficientes para porem em
prática os seus projectos quando os bancos ocidentais transbordam de dinheiro
de muitos africanos da elite! Meus irmãos dentre os ocidentais e os africanos,
quem deve desenvolver a África?
Quantos biliões de dólares norte-americanos
dos africanos mais ricos estão circulando na Europa, Asia, América, beneficiando
os outros?
Lembrem-se que eu dizia que os meus
antepassados sofriam da nudez enquanto eram ricos? Estou a falar de
antepassados africanos. Será que é nossa característica?
Vamos criar o nosso Banco Africano (African
Bank) com comportamentos semelhantes aos do Banco Mundial, ou o nosso Fundo Monetário
Africano (African Monetary Fund),onde todos os líderes e empresários irão
guardar ou investir os seus fundos, com a protecção e garantia através de uma
lei ou um decreto, para que esse dinheiro circule em África, respondendo aos
interesses e necessidades dos povos africanos. Não acham boa ideia? Pensem
talvez que descubra-se o lado mau dos líderes africanos? O objectivo não é arrancar
as suas heranças. A ideia é reconstruir a África, de modo a ser autónoma nos
seus assuntos particulares.
Não temam, precisamos de bons gestores de
recursos africanos e melhores defensores do património africano.
Precisamos de industrializar, desenvolver e
dignificar o nosso continente. Precisamos de lançar projectos a médio e longo
prazo para o bem de todos os africanos. Vejam a China!
Nós também podemos. A África é rica e nós
somos ricos!