domingo, 30 de setembro de 2018

O Novo Metical, DESABAFO DE UM MOÇAMBICANO








 


 
 
O dia 26 de Novembro, para mim, é uma data inesquecível. Reza a história da moeda moçambicana que o Metical nasce no dia 16 de Junho de 1980. Nessa data, era antes de eu vir a este mundo. Eu venho a nascer no dia o8 de Janeiro de 1981, na aldeia de Chimunguane, distrito de Mabalane, província de Gaza.
Sou de uma família humilde. Os meus pais António Khosa e Flora Ubisse são camponeses. Tal como outros meninos da região, cresci levando aquela vida do campo. Apascentei gado. Ajudei os meus pais na machamba e frequentei os meus estudos primários naquele ponto do país. Mais tarde, devido a influência dos hábitos e costumes lá predominantes, venho abandonar os meus estudos primários para a terra do Rande.
Ainda jovem, aos meus 17 anos, abandonei os estudos na 7ª classe, optando pela imigração ilegal via Massinguir-Phalaborwa. Lá ia eu com outros jovens de Mabalane (Domingos Nhlongo, Luís Nhlongo, Derick Nhongo, os três irmãos da Zona 7 e Ntsevetene da Zona 8) a busca das melhores condições de vida.
Estando na RSA, a vida não era aquilo que eu imaginava quando ainda estava em Moçambique. Foi muito difícil para mim.
Em Julho do ano 2000, fui repatriado junto com centenas de moçambicanos via Ressano Garcia, a partir de Lindela. Arrependi-me por ter abandonado a escola.
Mais uma insistência em Janeiro de 2001 via Ressano Garcia, também, ilegalmente. Dessa vez, deu para ganhar firmeza de permanecer no meu país de origem, Moçambique. Sofri bastante. Não fui repatriado. Decidi regressar para Moçambique. Regressei em Junho de 2001. Aqui, em 2002, retomo os meus estudos na EPC 24 de Julho, na cidade de Maputo. Tendo passado a 7ª classe, em 2003 ingresso-me na EPC do Alto-Maé, para fazer 8ª classe no curso nocturno. De salientar que nessa escola, a 8ª classe era ministrada como sendo da Escola Secundária da Francisco Manyanga. Portanto, as salas da EPC do Alto-Maé eram suas anexas.
Foi nesse ano de 2003 que me ocorreu a ideia do Novo Metical. Estudando de noite, de dia eu trabalhava como barbeiro. Aliás, comecei a barbear em Novembro de 2001. A ideia de eu ser barbeiro, foi sugerida pelo meu tio materno de nome Júlio N’wanoti Ubisse, o mesmo que estando na Africa do sul, Midrand, Ivory Park, Extation 3, Section 12, Malawu Street, 13814, fez-me lembrar da ideia de dar continuidade com os estudos. O meu tio tinha e continua tendo uma residência em Maputo e em Midrand na RSA. Tanto na terra do Rande assim como na terra do Metical, eu vivia na casa do meu tio. Na residência de Maputo, viviam a minha mãe, os meus irmãos mais novos e alguns familiares.
Concebi a ideia do Novo Metical em Abril de 2003 e só veio a conseguir propô-la ao Banco de Moçambique em Novembro de 2oo4. Nessa altura eu já andava na 9ª classe e nesse ano não pude continuar com os meus estudos secundários devido à outras razões de índole familiar.
Considero como fonte de inspiração a minha estadia na República da África do Sul, no intervalo compreendido de Julho de 1998 a Junho de 2001. O trabalho humilde que exercia na cidade de Maputo, o de barbeiro, desde Novembro de 2001, contribuiu de certa forma para a concepção da ideia do Novo Metical que mais tarde veio a ser partilhada com o Banco Central do nosso país. A barbearia contribuiu à medida que eu entrava em contacto com os estrangeiros de expressão inglesa que cortavam cabelo na minha barbearia. A curiosidade surge quando eu anunciava o preço de cada corte que os mesmos pretendiam fazer. Para eles tudo era natural. Para mim, algo parecia não estar conforme. Somente era natural para eu anunciar o valor do corte de cabelo em Metical com muitos zeros, ao anuncia-lo em português. Em contrapartida, ao anunciar o mesmo em inglês, percebia que havia algum exagero! Daí fui pensando… E comecei a simular alguns arranjos no Metical em comparação com o Rande que durante quase três anos estive usando como moeda de compra e pagamento na África do Sul. Lembro-me que na altura o corte de cabelo e barba custava 15000,00Mt. Em português dizia-se quinze contos ou Quinze Mil Meticais. Dizer quinze contos parecia suave. Mas ao anunciar o mesmo valor em inglês, parecia um roubo: Fifteen Thousand Meticals. Esse valor numérico, substituindo a sua referência em Meticais pelo Rande, me fazia lembrar que com quinze mil rendes era possível, na altura, comprar uma viatura de segunda mão de marca Toyota Hilux, ou até mesmo Nissan Champ e sobrar alguns trocos. Em Moçambique, eu tinha que atender alguém no corte de cabelo e barba com um valor numericamente equivalente!
Foi a partir daí que comecei a esboçar aquilo que me ocorria em mente como um sonho. Tudo aquilo que imaginava transferia para o papel. Usava as técnicas de desenho técnico e artísticos que aprendi durante os anos de escolaridade. Os meus esboços eram uma simulação para poder explicar àquele que não podia imaginar aquilo que me fluía em mente.
Os meus primeiros desenhos são datados de 06 de Abril de 2003. No dia 10 de Abril de 2003 tornei a melhora-los e por fim, em Setembro de 2004 fiz os desenhos definitivos, os quais, combinados com textos, tabelas, constituindo uma proposta intitulada Planeamento do Novo Sistema do Metical (PNSM) deram entrada no Banco de Moçambique como proposta, aos 26 de Novembro de 2004.
Quando eu fazia aquilo, não era instruído o suficiente para saber como as coisas relacionadas com o cunho da moeda são feitas. Não entendia nada de numismática nem de economia. Fiz na qualidade de um amador. Contudo, tinha um desejo, de ver a nossa moeda com poucos zeros, com o uso de centavos e compatível com outras moedas que nem Rande e Dólar norte-americano. Não dormia antes de descarregar o que pensava em relação a cada nota que imaginava. Outrossim, o que veio a impulsionar a minha inspiração foi a emissão e entrada em circulação das notas de 200.00,00Mt, 500.000,00Mt e uma moeda metálica de 10.000,00Mt no dia 01 de Setembro de 2004. Acompanhei a notícia através da Antena Nacional da Rádio Moçambique, pelas 13 horas do mesmo dia.
Na minha barbearia, eu tinha um rádio que usava para tocar música e escutar noticiários.
No dia 02 de Setembro de 2004, pude testemunhar o verbal pelo escrito através do Jornal Notícias que até mostrava as imagens dessas notas e moeda.
Visto que o Banco de Moçambique não previa nem revelava a intenção da redução de zeros do Metical em circulação para dar origem a nova moeda do Metical com poucos zeros, ao invés de manter a minha ideia na gaveta, ofereci-me a propor voluntariamente aquilo que era a minha visão sobre a moeda nacional.
A ousadia de seguir em frente resultava do apoio moral de alguns clientes meus da barbearia que acreditavam que a minha ideia pudesse sortir o efeito desejado. Não só houve apoiantes, também houve oponentes, incluindo um dos meus irmãos mais velhos. Ele não acreditava que as autoridades fossem aceitar por exemplo: substituir o rosto do então presidente da República Joaquim Chissano pelas imagens de animais e outras atinentes a realidade e cultura moçambicana. Defendia eu a retirada de imagens dos rostos das figuras do partido no poder alegando que caso entrassem outros partidos também, haveria necessidade de eles criarem mais notas com muitos zeros para estampar os rostos dos seus líderes. Igualmente, num período muito curto, acabava-se de produzir e aprovar um novo hino nacional “Pátria Amada”, para evitar a exaltação do partido no poder num contexto multipartidário. Considerava eu na altura que a presença dos rostos daqueles políticos nas notas era como se estivessem a desprezar a existência e os esforços das outras formações políticas. Portanto, ilustrações que nem de animais não punham em causa a vontade de todos os moçambicanos.
Depois de ter passado do Ministério de Plano e Finanças em Outubro de 2004, precisamente da Sala de Tesouro, onde falei com três funcionários públicos, que lá se encontravam no tal dia, os quais aconselharam-me a ir propor aquilo ao Banco de Moçambique, no dia 25 de Novembro de 2004, passei da recepção do Banco de Moçambique onde, no balcão principal, da entrada da Avenida 25 de Setembro, falei com a recepcionista de nome Felícia, a qual teve paciência de me ouvir a explicar passo-a-passo do que se tratava. Assim procedi porque a Felícia além de estranhar a estava curiosa em saber do que se tratava. Depois de me ouvir, por sua vez a Felícia ligou para a dona Argentina, secretária do governador do Banco de Moçambique, na altura Adriano Afonso Maleiane. Foi dona Argentina quem me orientou para submeter a proposta destinando-a ao senhor governador do Banco de Moçambique.
Como não havia feito nenhuma cópia, tive que regressar para casa (no bairro Malanga, cidade de Maputo) com o objectivo de fazer uma cópia do documento composto por 16 páginas. Fui fazer as cópias na AMODEFA onde anteriormente havia feito impressões do mesmo trabalho. Feito isso, no dia seguinte, 26 de Novembro, já estava em altura de submeter a proposta. Só que havia-me esquecido de fazer a carta. Fiz um manuscrito ali mesmo na recepção do BM. Contudo, no documento original (proposta), ficou carimbada a data de recepção da proposta e a acusação com a assinatura da recepcionista Felícia.
Tendo recebido o documento, a Felícia mandou-me aguardar pela resposta no prazo de 30 dias. Findo o prazo, no início de 2005, começava o ping-pong de consulta do despacho. Até que no dia 10 de Marco de 2005, um tal de senhor Horácio Mucavel veio ter comigo na recepção para confirmar que o documento tinha se perdido antes de chegar nas mãos do senhor governador do Banco de Moçambique. Ele pediu minha permissão para fazer insistência com mais uma cópia da proposta. Eu curioso em saber qual seria a reacção do BM, não me recusei da proposta dele. Aceitei. Ele levou a minha proposta original, a cor, foi no seu local de trabalho, por sinal, no Gabinete do Governador do Banco (GGB) fazer uma cópia e depois devolveu-me o documento original, inspirando-me confiança e certeza de que aquela segunda via iria chegar nas mãos do Boss dele. De lá para a ferente, fui consultando o despacho até que em Junho de 2005 ele (o senhorMucavel) me apareça a dizer verbalmente que os quadros do Banco de Moçambique tinham recebido a minha proposta mas não chegaram de fazer nada por escrito, e que verbalmente eles louvavam a iniciativa e agradeciam pela proposta. No tal dia fiquei muito chateado mas nada podia fazer e o senhor Horácio também nada podia fazer. Saí do Banco de Moçambique para casa muito decepcionado porque eu esperava receber a resposta por escrito visto que eu também havia apresentado a minha proposta da mesma forma. Decidi nunca mais pôr os pés naquela instituição.
Em Junho de 2005, na minha barbearia, conversando com um jovem do Bairro Malanga onde eu vivia e se localizava a minha barbearia, de nome Jordão Ntivane, ele me fala de um concurso público lançado pela Assembleia da República para a revisão do Emblema e da Bandeira nacionais. Ele havia acompanhado a minha história do desenho do Metical, que propus ao BM. Sugeria que eu concorresse. No dia seguinte, fui a AR me inteirar sobre as regras do concurso. Na entrada das bancadas parlamentares, haviam fixado o jornal noticias que continha as informações do concurso. De regresso a minha casa, pus-me a esboçar o emblema e a bandeira, incluindo as respectivas explicações/caracteristicas. Findo, os esboços, juntei os documentos e fui submeter na Assembleia da República. Submeti enquanto os cidadãos nos programas radiofónicos se opunham a tal necessidade da revisão dos referidos símbolos. Não fui classificado como vencedor.
No dia 14 de Outubro de 2005, na barbearia, conversando com um jovem, cliente meu, residente do bairro Malanga, chamado Jey, ele fala-me de uma publicidade que tinha visto num dos canais televisivos que na altura não se lembrava do seu nome, que dava a conhecer que o Metical passaria a ter menos três zeros. Quando ele me falou isso, fique curioso em saber qual era o canal e se havia um jornal que falava disso. Ele não me sabia responder. Quando eu ia a escola, passei da Versalhes, onde constumava estar um velho a vender jornais, procurar saber se ali havia um jornal que abordava sobre o supramencionado assunto ou não. O velho não tardou, indicou-me o jornal. Era o jornal O País da SOICO. Na altura esse jornal era semanário. No seu suplemento económico podia se ler toda a informação que falava da proposta de Lei de criação da taxa de conversão do Metical que circulava para dar origem à Nova Família do Metical. Nele não se falava muito do Banco de Moçambique, Falava-se do Ministério de Finanças. Comprei o jornal para ver se ao longo do texto jornalístico estava lá o meu nome ou não. Quando fui lendo, constatei que nada. Não havia meu nome. Foi a partir dai que no sábado, na barbearia, conversando com um outro jovem da zona, chamado Chico, ele sugere-me um jurista conhecido dele, chamado Dr. Atanásio Pedro. O tal trabalhava na Assembleia da República.
Na segunda-feira, 17 de Outubro de 2005, iniciava mais uma sessão ordinária das actividades da Assembleia da República, os deputados a entrarem, eu entrava também para pedir falar com o Dr. Atanásio. Não lhe conhecia nem ele me conhecia. Ligaram para ele a partir da recepção, da entrada da Avenida 24 de Julho. Ele veio ter comigo. Contei-lhe a minha história. Ele me aconselhou a ir pedir audiência com o senhor governador do Banco de Moçambique. No mesmo dia ao sair dalí, fui pegar chapa que ia a Baixa da cidade de Maputo na paragem Versalhes. Chegado no Banco Central, simulei que procurava saber do despacho da minha carta. A Felícia estava lá. Ela que já me apelidava como sendo “jovem do Metical”, liga para a secretaria do governador, a dona Argentina. E, teve a resposta de que “ainda não tem despacho”. Nos outros dias antes de desistir da consulta do despacho, a resposta que Felícia me dava era de que “o teu caso ainda está em estudo, venha daqui a uma semana”. Por essa razão que eu chamei a esse processo de “início de ping-pong da consulta do despacho”. Quando ela me disse que ainda não tinha despacho, de uma forma humilde, procurei saber se era possível me concederem uma audiência com o senhor governador do Banco e ela procurou certificar de mim se realmente eu queria falar com ele ou não. Tendo confirmado a minha disposição, ela liga para a dona Argentina, a secretaria do Dr. Maleiane para ver se havia espaço para isso ou não. A dona Argentina autorizou-lhe para ela me mandar subir. Apanhei o elevador para o 2º piso. Lá chegado, ela um pouquinho ocupada, aguardei e depois me atendeu com todo o respeito. Confirmou ter visto a minha proposta mas não sabia se a mesma na altura tivesse despacho da parte do seu chefe. Foi daí que ela chamou o senhor Horácio Mucavel para lhe perguntar sobre o assunto, pois, parece-me que ela havia tempo que se tinha ausentado um pouco. O senhor Horácio confirmou que o senhor governador do Banco de Moçambique havia despachado o assunto para o DEP (Departamento de Emissão e Sistemas de Pagamento) e que, quem devia cuidar do assunto era o Dr. Augusto Cândida.
Tendo se inteirado sobre o assunto, a senhora Argentina, roga-me para ir ter com o Dr. Augusto Cândida, director do DEP na altura. Tentei insistir em querer falar com o Dr. Adriano Maleiane mas ela prometeu deixar-me falar com ele caso o Dr. Augusto Cândida não me atendesse. Aceitei. Ela liga para a dona Inês, secretária do Dr. Augusto Cândida, combinam que ela devia criar condições para eu puder falar com o seu chefe. Havendo espaço na agenda dele, foi possível me conduzirem para lá no Rés-do-chão, do lado das Correspondências e Depósitos, onde funcionava o DEP. Eu diante da cancela, sou recebido por um homem de fato, de cabelos crespos, certificando o meu nome e me recebendo com carinho e respeito. Era o tal Dr. Augusto Cândida. No gabinete dele, ele confirma ter recebido a minha carta em forma de uma brochura, e pedia desculpas pela demora com a resposta. Tentou enrolar-me dizendo que a carta estava pronta só que quem havia arquivado era um colega dele que estava na Beira em missão de serviço. Pediu-me um pouquinho de paciência por uma semana e eu mostrava-me inquieto com a demora do despacho e com o que estava a acontecendo. Comecei a falar daquilo que se falava sobre a redução de zeros do Metical. Ao notar que eu já sabia do que estava acontecendo, ele assume uma posição alegando que o que se falava sobre o Metical não tinha nada a ver comigo mas sim, era ideia do Banco de Moçambique.
Eu, ideia do Banco de Moçambique? Ele, sim. A sua ideia apenas foi uma coincidência. O Banco já tinha pensado a muito tempo. Eu comecei a não gostar do que ele falava. Fiquei irrequieto. Ele altera o prazo em que ele prometia dar-me a resposta por escrita para dois dias e faz a questão de me passar um cartão com contacto dele do serviço e o pessoal (telemóvel) escrito a esferográfica. Prometeu-me que ia cumprir com o prazo. Minutos depois do encontro saio do gabinete dele. Ele acompanha-me e abre a cancela. Fui para casa com mais uma decepção. Findo o prazo dos tais dois dias, ligo para ele, não me atende. Insisto, ele atende e diz que “liga-me noutra altura, estou reunido”. Parece-me que estava no Centro Cultural do Banco de Moçambique, na cidade da Matola. Ele só veio a ligar para mim na manha do dia 25 de Outubro para eu ir levantar a carta. Quando fui levantar a carta na manhã do dia 26 de Outubro, após ler seu conteúdo, não gostei do posicionamento do Banco de Moçambique. Não me reconhecia como autor da iniciativa. Indignei-me. Escrevi uma carta sem obedecer nenhuma estrutura formal para o governador do Banco Central, Adriano Afonso Maleiane. Alegando que o seu colega não me havia tratado como eu merecia. A carta deu entrada no dia 02 de Novembro de 2005. Por sua vez, o governador, invés de emitir o despacho para mim, delega o director do DEP para me responder, isto e, despacha a carta internamente para o Dr. Augusto Cândida, incumbindo-le a missão de me responder. Foi a partir daí que o director do DEP me liga, para eu ir levantar uma carta. Fui levantar a carta datada de 01 de Dezembro de 2005, que dava por encerado o nosso assunto e devolvia a minha proposta. Quando lá cheguei por volta das 16 horas, quem me atende é a dona Glória. A dona Inês não estava. Ela entrega-me a carta e diz que devia assinar o protocolo. Recusei-me, pois, não concordava com o conteúdo. Saí dali chateado. Fui ligar para o Dr. Augusto Cândida e ele marca um encontro comigo para as 15 horas do dia 02 de Dezembro. Aceitei. Antes da hora marcada eu estava lá. Ele me recebe e chama o seu colega Dr. Henriques Matsinhe. Reunidos, o Dr. Augusto Cândida, explica a razão do encontro. Diz que foi iniciativa deles (ele e o Matsinhe). Segundo o governador, o qual eu confiava nele, devia se dar por encerado o assunto pois eu começava a falar muito lá fora. E, eles, por saber que eu não entendia nada sobre os procedimentos do Banco de Moçambique, decidiram esclarecer-me sobre como é que as coisas eram feitas naquela instituição do Estado. Disseram-me que a ideia do corte de zeros não era a minha iniciativa, o Banco vinha trabalhando no assunto com vista a dar resposta a demanda da sociedade e dos agentes económicos. Igualmente, no tocante àquilo que diz respeito ao dinheiro, antes dos cidadãos pensarem, o Banco de Moçambique já pensou há muito tempo. Pois, é tarefa do Banco Emissor fazer estudos económicos e acompanhar a economia do país. Mostraram-me alguns documentos que alegavam ser resultado de um concurso internacional promovido pelo Banco de Moçambique em 2002, para a padronização da nova moeda denominada Metica e não Metical. Ali tive que aceitar receber a carta que era destinada a mim. Recusei-me de receber de volta a minha proposta, pois, eu acreditava que iria assinar que recebi mas o Banco continuaria com outras cópias além de o mesmo ter-se apropriado das minhas ideias.
Depois desse encontro com os dirigentes do Banco de Moçambique, procurei divulgar o sucedido pela imprensa. A imprensa pública (RM, TVM, Jornal Noticias) recusou-se a falar sobre o assunto, pois, na Assembleia da República debruçava-se sobre o mesmo assunto. Alguns honestos chegaram a me sugerir ir ter com os semanários independentes.
Tendo sido aprovada a Lei que que cria a taxa de conversão do Metical da antiga Família para a Nova Família na AR em Novembro de 2005, no início do ano 2006, o Banco de Moçambique já falava na imprensa sobre a dupla indicação de preços e das políticas da conversão do Metical antigo para obter o novo. Fiquei sabendo que o Dr. Henriques Matshine era o presidente da introdução da Nova Família do Metical. Estranho! Mas era isso que estava acontecendo. Andava nos programas da televisão com o economista do Banco de Moçambique, Dr. Bento Baloi, para explicar como é que se devia proceder com a tal conversão do Metical. Eu, acantonado lá no fundo, onde ninguém podia me identificar nem suspeitar que tudo começou comigo, só acompanhava através da imprensa e ninguém se lembrava de mim!
Fala-se dum concurso internacional que investigando a luz da lei de contratação de empresas para o fornecimento de bens ou serviços (datado de 1989 e 1997 respectivamente) na altura em vigor, duvida-se muito da sua realização. Não há transparência!
No dia 01 de Julho de 2006 entra em circulação as novas notas e moedas do Novo Metical. Nele estavam patente os traços da minha proposta. A começar do próprio nome, embora tenham forçado a alteração para “Família” invés do “Sistema”; o uso de centavos e as imagens por mim propostas lá estavam; os dizeres do Banco de Moçambique no lugar dos dizeres da República de Moçambique; o tamanho reduzido das moedas; a qualidade do metal e do papel que posteriormente em 2011 veio a ser melhorado cumprindo-se o que eu propus.
No dia 10 de Agosto de 2006 o meu primeiro grito é espalhado pelo semanário Zambeze. Tendo merecido o destaque da semana com o título: “O Autor do MTn diz Burlado pelo Banco”. Lá estava eu ladeado pelas imagens das notas por mim desenhadas, com um rosto sorridente em como se nada de errado tivesse acontecido comigo. O autor do Artigo foi o senhor Rui de Carvalho, o qual mais tarde passou a dirigir o Jornal Público.
Em Outubro de 2007 intento uma acção jurídica contra o Banco de Moçambique, tendo primeiramente merecido o despacho para a 4ª Secção Criminal e posteriormente transferido para a 1ª Secção Comercial devido a natureza dos factos. Na secção comercial a juíza foi a Dra. Matilde da Almeida Monjane. Nessa instância, a Sentença foi proferida em 2010, considerando o assunto improcedente, sendo o Banco de Moçambique favorecido pela Absorção de Instância.
Não me conformando com a Sentença, na altura recorri para o Tribunal Supremo, e lá o juiz era Dr. Mário Mangaze. Com a criação do Tribunal Superior de Recurso, em 2011 o meu processo desce para a Secção Cível no Palácio da Justiça da Cidade de Maputo, no 8º andar. Ali, a juíza foi a Dra. Osvalda Joana. O mais incrível, todas essas duas juízas, no fim dos meus processos foram elevadas de categoria para Juízas Conselheiras do Tribunal Supremo! Que coincidência!
Foi esta instância que através do seu Acórdão proferido à páginas 405, conseguiu me esclarecer sobre o que tinha acontecido com o meu processo. O meu advogado, Dr. José Albano Maiópuè e a primeira instância, cometeram erros processuais que segundo esta instância de recurso, nas suas recomendações, eu devia abrir mais um processo a esclarecer alguns pontos que não estavam claros no processo No. 38/2011 – P.
No referido processo, o Banco de Moçambique evocou um concurso internacional, no qual em 2002 enviou cartas e os respectivos espécimes para as seguintes empresas: Francois Charles Fiduciere Obertung, De La Rue, The Royal Mint, Birmingham Mint, SA Mint e La Crone, de tal maneira que pudessem manifestar o seu interesse.
No processo não há transparência sobre como é que o tal concurso foi realizado, a adjudicação dos vencedores. Como também, o Banco de Moçambique faz menção a uma moeda que não existe, chamada Metica. Atenção, Metica e não Metical. Trata-se de uma desculpa infundada do Banco de Moçambique com o intuito de despistar a origem da Nova Família do Metical, a qual, para a sua origem baseou-se na minha proposta intitulada Planeamento do Novo Sistema do Metical
O tempo foi passando. Temendo perseguição e represálias, acabei desistindo do processo, aptando pelos meus estudos superiores. Nos processos, o Réu era o Estado Moçambicano representado pelo Banco de Moçambique. Houve um bate boca entre eu e o Departamento de Assuntos Jurídicos (DAJ) na altura representado pelo Dr. Teodósio Gama e Dr. Edgar Fortes. Pude notar durante as conversações que havia uma tendência de ignorara a razão em defesa da imagem da instituição. Tive algumas correspondências com o Gabinete do Governador do Banco de Moçambique, assinadas pelo Dr. Augusto Paulino, director daquele gabinete quando o governador era o Dr. Ernesto Gouveia Gove.
Aqui está uma pequena síntese daquilo que aconteceu no Banco de Moçambique desde 2004 até 2012. Há muito blablá para apurar a veracidade dos factos. Mas a verdade é: rios e rios de dinheiro suspeito que tenham corrido naquela instância que por sinal nenhuma auditoria possa passar por lá para estes factos serem confrontados. Para mim, o alegado concurso é uma falácia. Não houve nenhum concurso internacional. Desafio os investigadores para apurarem a verdade e estou disposto a colaborar com as informações que tenho da minha parte, não no sentido de invadir a privacidade ou informação sigilosa daquela instituição bancária. O mal é que não me reconhecem como Autor da iniciativa do Novo Metical enquanto Eu Sou.
 
Copyright © 2018 Júlio António Khosa

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